quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dos erros e das faltas de nós.


Não, não faz assim. Não diz que foi um erro ter me dado à mão naquela manhã cinzenta ou ter acreditado naqueles sorrisos que eu te dava através do vidro da janela quando nossos olhares se encontravam por querer ou atração ou paixão mesmo. Não resume tudo o que a gente viveu à isso, à um erro que não merece ser lembrado. Não foi um erro, pelo menos acho que não merecemos ser lembrados assim. Não foi errado, foi uma criação nossa, que fugiu do convencional e de nossas expectativas, mas erro não é a palavra certa. Foi errado porque não aconteceu como deveria, mas como deveria? O que é o certo quando se trata de amor? Você não acha bom saber que existe um tipo de amor circulando por aí com as nossas credenciais? Fomos inéditos. Fomos a pré-estreia de um amor que não teve tempo para estrear e se tornar um sucesso de bilheteria porque os críticos nos convenceram de que não valia a pena investir na produção. Era barato demais, complicado de um jeito muito simples, repleto de clichês e ficou faltando aquelas cenas hollywoodianas que eles tanto gostam. 
E faltou mesmo. Faltou aquela dúzia de meias verdades que não arranquei de você enquanto deixei o nosso velho silêncio roer as bases da nossa construção até que ela viesse abaixo; faltou gritarmos um com outro, quebrarmos alguns vasos ao atirá-los na parede; faltou eu assumir sem medo o controle que você não soube tomar. Foi cheio de faltas, mas não foi um erro. E se foi erro, eu erraria de novo e de novo se em todas as vezes o seu sorriso mostrasse ser o melhor investimento que fiz na vida. A gente não pode chamar algo tão bonito de erro. Foi cheio de dor, eu sei, mas foi bonito, foi sincero, foi uma tentativa, e tentativas, mesmo as que não dão certo, são um gesto nobre de coragem.
Tentamos. Não deu. Que se há de fazer? Faz chorar hoje, mas ontem fez rir. Não tem mais poesia nem seu abraço quente no final do dia, mas tem aquele bocado de lembranças bonitas que a gente esconde na maioria das vezes pra não sofrer, mas vez ou outra vasculhamos e choramos saudade. Não foi erro, nunca foi errado tentar ser feliz. Foi nobre, já disse. Não é todo dia que alguém se lança em algo como nos lançamos em nós mesmos. Nos lançamos no que não sabíamos e, embora agora caiamos em queda livre, em alguma manhã de sol conseguimos voar e aproveitar a paisagem. Tivemos sorte, nem todos se amam assim como a gente se amou, nem todos conseguem encontrar o canto de um pescoço que traga a paz, nem todos sofreram como a gente sofreu quando tudo acabou e o amor ficou. E isso também é sorte, prova o quanto a gente foi capaz de amar, ainda que tenha faltado a doação e tantas outras coisas. É como dizem por aí: só o amor não sustenta ninguém, o amor é o primeiro degrau de uma escada repleta de outros sentimentos. Amor tínhamos, mas não soubemos passar desse primeiro degrau. 
Faltou coisa demais. Foi uma falta, uma casa sem móveis, um sofá vazio, mas não um erro, não um desabamento ou um sofá lançado ao fogo. Tínhamos a base - o amor - só não soubemos preencher todos os espaços, mobiliar a casa e manter nossos corpos aquecidos sobre o sofá. Não foi um erro, foi apenas incompleto. Erro teve, claro, quem nunca errou? Eu sei que errei quando deixei de te procurar, de te sacudir, de me enroscar em você. Mas foram erros derivados das grandes faltas. Foram pequenos grandes erros dentro do espaço maior que foi a nossa tentativa. Bonita, doída, saudosa. 
Dessa nossa história de faltas, erros e incompreensões, guardo um sorriso bonito. Queria que você também fosse capaz e não se prendesse apenas ao que foi errado, meio contramão. Depois de todas as nossas faltas, hoje tudo sobra: espaço no abraço, o seu lado da cama, a saudade no final do dia. O grande erro, plagiando a canção, foi crer que estar ao seu lado bastaria. Não bastou. Mas teria sido um bom começo se nós fôssemos os protagonistas da nossa história. Quer saber?, taí, O erro: fomos coadjuvantes demais para um amor que nos queria em primeiro plano e todo o resto do mundo como um barco cada vez menor e cada vez mais distante indo em direção à linha do horizonte até sumir de vez e nos deixar a sós. 

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